Por Mariana Camacho

Quando pensamos sobre a implementação de pedágios e a duplicação de rodovias no Circuito das Águas Paulista, a princípio, a ideia de melhorar a infraestrutura e facilitar o fluxo de veículos pode parecer positiva. Mas, se olharmos mais a fundo, os impactos financeiros e sociais para os municípios da região levantam questões que não podem ser ignoradas. A solução para uma melhoria no transporte pode, paradoxalmente, se tornar um fardo para as cidades que já enfrentam dificuldades em diversas áreas. Por isso, é essencial que nos perguntemos: quem realmente paga a conta dessa mudança?

Primeiro, devemos pensar nas vicinais que, ao se tornarem rotas alternativas devido ao pedágio, exigirão manutenção extra. Com o aumento do volume de veículos, essas estradas, que muitas vezes já estão em condições precárias, terão sua demanda ampliada. O custo de manutenção será transferido para os municípios, onerando ainda mais as prefeituras que, por sua vez, já enfrentam limitações financeiras. Claro, poderia se argumentar que haverá verbas para essas melhorias, mas será que elas realmente cobrirão a totalidade dos custos e demandas geradas por esse aumento de tráfego?

Além disso, o aumento no número de veículos pode ter um efeito devastador na segurança das cidades. A presença de mais carros e caminhões nas estradas pode criar novas oportunidades para a criminalidade, como assaltos e furtos, especialmente em localidades mais vulneráveis. Em cidades como Socorro, onde o efetivo da Polícia Militar é pequeno e a maior parte do serviço de segurança é feito pela Guarda Municipal, o aumento da violência exigirá mais investimentos em policiamento, infraestrutura de segurança e monitoramento. E quem vai pagar por isso? A prefeitura? A População?

Outro impacto direto que o pedágio e a duplicação de rodovias trarão é no custo de produtos. Os insumos importados para as cidades da região, e também os produtos que precisam ser escoados, se tornarão mais caros. A introdução de novas taxas de pedágio para caminhões e veículos de carga vai elevar o custo logístico, o que, por sua vez, impactará na precificação de produtos e serviços. As pequenas, médias e grandes empresas sentirão esse efeito na prática, e não são poucos os casos em que o aumento no custo de transporte acaba sendo repassado diretamente para o consumidor final.

Isso se reflete também no mercado de trabalho. O aumento no custo de transporte pode resultar em uma diminuição nas vendas, já que o preço dos produtos pode subir. Como consequência, empresas podem ser forçadas a demitir funcionários, o que gera uma espiral negativa: aumento do desemprego, menor poder aquisitivo e menos consumo interno. E tudo isso não se limita à economia. O estresse gerado pela insegurança financeira e pela incerteza no mercado de trabalho pode aumentar o número de casos de doenças como depressão, ansiedade e outras condições ligadas ao estresse, sobrecarregando o sistema de saúde municipal.

Falando em saúde, é importante refletir também sobre o impacto no turismo. Se, por um lado, a duplicação pode atrair mais turistas para a região, por outro, ela também pode gerar novos desafios. O aumento do turismo trará consigo uma quantidade maior de lixo, e será que as prefeituras têm capacidade para lidar com esse aumento? O saneamento básico, que já é um desafio em muitas cidades, será suficiente para garantir a qualidade de vida com o aumento da população flutuante? A saúde pública também sofrerá com isso, com um aumento de demandas que exigem investimentos consideráveis.

O turismo, muitas vezes uma das principais fontes de receita para as cidades da região, poderá enfrentar outro dilema: o aumento do custo para o turista. O pedágio, por exemplo, pode tornar as viagens mais caras, o que pode afastar turistas que antes viam a região como um destino acessível. A questão se coloca: será que a região está preparada para receber um perfil de turista mais caro, mais seletivo? As prefeituras possuem infraestrutura suficiente para atender essa nova demanda? Restaurantes, hotéis e comércios locais têm o perfil necessário para lidar com turistas que esperam mais serviços e um ambiente mais refinado?

Essas questões levantam uma reflexão crucial: A verba que retorna das concessionárias realmente será suficiente para cobrir todas as necessidades geradas por esses impactos? Ou, em última análise, as prefeituras terão de arcar com a maior parte dos custos relacionados à manutenção de estradas, saúde, segurança, meio ambiente e questões sociais? E, se o governo estadual já arrecada tantos impostos das prefeituras e dos cidadãos, será que não seria mais sensato que a duplicação fosse responsabilidade direta do Estado, sem a necessidade de privatização, para que a carga financeira não seja transferida para quem menos pode arcar com ela?

Portanto, quando falamos em pedágios e duplicação de rodovias, é preciso olhar para as consequências de uma maneira ampla e sistêmica. Precisamos de um estudo de impacto das comunidades, precisamos ter clareza de que uma taxa sobre o direito de ir e vir não apenas cerceará a locomoção, mas o direito da integridade econômica, social e ambiental. O que parece ser um progresso em termos de infraestrutura pode se transformar em um fardo para as cidades da região, caso não haja uma análise cuidadosa dos impactos financeiros e sociais que serão gerados. A reflexão sobre quem pagará a conta é mais do que necessária – é urgente.

Mariana Mantovani Camacho é publicitária e já atuou como Diretora do Departamento de Indústria e Comércio da Prefeitura de Socorro

One thought on “PEDÁGIOS E SEUS IMPACTOS NAS CIDADES DO CIRCUITO DAS ÁGUAS PAULISTA: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA”
  1. Diante tantos tributos pago pôr tds nós trabalhadores.
    Nada justifica a implantação de mais pedágios a onerar os cofres municipais.
    É preciso ter mais responsabilidades, respeito e parar de sangra mais ainda os munícipes que já estão calejados de tantos usurpamentos por parte de governos estaduais e federais.
    O mais correto e humano a ser feito, é a descentralização de recursos financeiros de estados para com municípios.
    Pois o bolo tem que ser dividido debaixo para cima e não decima para baixo.
    É indiscutível ter uma união entre municípios a nível nacional e fazer uma mobilização popular.
    Pedir já a descentralização dos recursos financeiros de estados para com municípios e acabar com a roubalheira da maioria que estão nos poderes atrapalhando o processo de desenvolvimento cultural e social em nosso país.
    Chooooo corruptos!!💪✊️

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Iniciar conversa pelo WhatsApp
1
Receba ou Envie Notícias
Olá👋! Estamos muito felizes em te receber aqui!
👉 Salve nosso contato para receber notícias direto em seu WhatsApp 📰
👉 Você pode nos enviar informações e notícias por este canal também.😀

Seja Bem -Vindo (a) ao Jornal de Socorro 📰💚